Alfabetização e Letramento - Parte 1

Diferenças entre Alfabetização e Letramento

Prof.ª Fernanda

O que é letramento?



Letramento não é um gancho
Em que se pendura cada som enunciado,
Não pé treinamento repetitivo
De uma habilidade,
Nem um martelo
Quebrando blocos de gramática.
Letramento é diversão
É leitura à luz de vela
Ou lá fora, à luz do sol.
São notícias sobre o presidente,
O tempo, os artistas da TV
E mesmo Mônica e Cebolinha
Nos jornais de domingo.
É uma receita de biscoito,
Uma lista de compras, recados colados na geladeira,
Um bilhete de amor,
Telegramas de parabéns e cartas
De velhos amigos.
É viajar para países desconhecidos,
Sem deixar sua cama,
É rir e chorar
Com personagens, heróis e grandes amigos.
É um atlas do mundo,
Sinais de trânsito, caças ao tesouro,
Manuais, instruções, guias,
E orientações em bulas de remédios,
Para que você não fique perdido.
Letramento é, sobretudo,
Um mapa do coração do homem,
Um mapa de quem você é,
E de tudo que você pode ser.

Kate M. Chong.- estudante norte-americana (Soares.M. p.41)

O que é alfabetização? O que é letramento?

ALFABETIZAR: ensinar a ler e a escrever

Alfabet + izar

-izar: sufixo – indica: tornar, fazer com que
Exemplo: suavizar: Tornar suave

Alfabetizar = tornar o indivíduo capaz de ler e escrever.

ALFABETIZAÇÃO: ação de alfabetizar

Alfabet + iza (r) + ção

-ção: sufixo que forma substantivos – indica: ação
Exemplo: traição: ação de trair

Alfabetização = é a ação de alfabetizar, de tornar “alfabeto”.

LETRAMENTO

A palavra letramento é uma tradução para o Português da palavra inglesa literacy, os dicionários definem assim:

Literacy = the condition of being literate

Littera = cy
Palavra Latina = letra -cy: sufixo, indica qualidade, condição, estado.
Exemplo: innocency = condição de inocente.

Traduzindo: literacy, é “a condição de ser letrado” – dando à palavra “letrado” sentido diferente daquele que vem tendo em português.
Em inglês literate significa: (educado, especificamente, que tem a habilidade de ler e escrever).

Literate é, pois, o adjetivo que caracteriza a pessoa que domina a leitura e a escrita, e literacy designa o estado ou condição daquele que é literate, daquele que não só sabe ler e escrever, mas também faz uso competente e freqüente da leitura e da escrita.

Alfabetização e história

Houve um longo período em que a leitura e a escrita eram duas aprendizagens concebidas de modo distinto, separadas e sucessivas no tempo. Primeiro iniciava-se a aprendizagem da leitura e depois de longos anos era iniciada a aprendizagem da escrita. Na maior parte das vezes cabia aos pais a função de ensinar a ler.
Sendo a leitura e a escrita atividades individuais os métodos existentes até então, eram aplicáveis à educação privada, individual, aplicada pelo preceptor (precursor do pedagogo), portanto somente as crianças cujos pais pudessem custear um preceptor eram iniciadas na arte da leitura e da escrita. Até os mestres escolares eram então especializados: havia os que ensinavam a ler, os que ensinavam a escrever e outros que só ensinavam a contar. Em classes em que o mestre ensinava as três habilidades, o ensino sendo individualizado as crianças eram divididas por estágio de aprendizagem. Somente o catecismo era ensinado coletivamente.
A aprendizagem da leitura e da escrita como chamamos hoje de processo de alfabetização começaram a ser associadas somente após a ação da Reforma Luterana e, posteriormente, da Contra Reforma Católica, com a implantação da escola republicana.
Mas foi somente no século XIX que a pratica da leitura e da escrita começaram a ser vistas de modo associados, como duas faces da mesma moeda.
É nessa época que surge a questão: Ensinar às crianças a letra manuscrita, a de imprensa ou as duas ao mesmo tempo? Que métodos utilizar?
A alfabetização passa a ser definitivamente um processo pedagógico, com a escola podendo atuar como agência de socialização desse processo.


Podemos dividir a história do ensino da leitura e escrita em três períodos principais:
 O primeiro que vai da Antiguidade até meados do século XVIII que é marcado pelo uso exclusivo do chamado método sintético.
 O segundo, a partir do século XVIII, em que tem início um processo de oposição teórica ao método sintético pelos precursores do chamado método global, oposição esta que se efetivará no início do século XX, com Decroly.
 O atual, em que, ultrapassando a batalha entre defensores do método sintético e defensores do método analítico, questiona-se aquilo que é fundamental desses dois métodos.

Métodos de alfabetização

 Método Sintético – é o mais antigo de todos, tem mais de 2000 anos. Considera a língua escrita objeto de conhecimento externo ao aprendiz, a partir daí realiza uma análise puramente racional de seus elementos. A instrução procede do simples para o complexo, racionalmente estabelecidos: num processo cumulativo, a criança aprende as letras, depois as sílabas, as palavras, frases e, finalmente, o texto completo. Estabelece-se como regra geral que a instrução não deve avançar no processo sem que todas as dificuldades da fase precedente estejam dominadas, ou seja: o aprendiz deveria dominar o alfabeto, nomeando cada uma das letras, independente do seu valor fonético e de sua grafia. Essa aprendizagem era feita repetindo-se o nome da letra em coro, soletrando. Na fase seguinte era apresentada a grafia das letras do alfabeto e, numa primeira síntese, apresentavam-se as sílabas, sistematicamente e em ordem, em seguida as palavras mais simples (monossílabas) e depois, as mais longas, consideradas de pronuncia mais difícil.
Esse era um método que progredia lentamente, em geral, o aprendiz demorava quatro anos para começar a ler um texto completo, já que a aprendizagem da leitura era estreitamente ligada à aprendizagem da oratória e o ato de ler visava eliminar os defeitos da linguagem oral, além disso, as características da escrita da época dificultavam ainda mais, pois, os textos não tinham pontuação, as palavras não eram separadas por espaços em branco, a forma da letra era rebuscada e ornamental, e a ortografia não estava normalizada. Somente após vencer todas essas dificuldades é que a crianças era iniciada na aprendizagem da escrita.
Esse método vai atravessar toda a Antiguidade e predominar também na idade Média. Na segunda metade do século XVIII, Viard e Cherrier, dois autores de metodologias, propõem abandonar a soletração e colocam como ponto de partida do ensino da leitura a sílaba, após o conhecimento das letras do alfabeto: não é mais preciso ensinar b + a = ba, mas diretamente: ba;
No início do século XIX, o método sintético se aperfeiçoa, mudando a ênfase do nome para o som da letra. Em 1828, M de Laffoe propõe que a arte da leitura deve consistir na pronuncia dos sons dos signos do alfabeto, um após o outro. Primeiro se ensinam os sons das vogais, depois os sons das consoantes simples e, depois, os sons dos encontros consonantais.

 Método Analítico – Em 1787, Nicolas Adam lança as bases do novo método. Adam utiliza uma metáfora para justificar seu ponto de vista: quando se quer mostrar um casaco para uma criança, não se começa dizendo e mostrando separadamente a gola, depois os bolsos, os botões. O que se faz é mostrar o casaco e dizer para a criança: “isto é um casaco”. Adam argumenta que é também assim que as crianças aprendem a falar e pergunta: por que não usar o mesmo método para fazê-la aprender a ler?Propunha, portanto, que se escrevessem palavras significativas para a criança em pedaços de papel de diferentes formatos; com esta pequena ajuda, a criança seria capaz de reconhecer as palavras rapidamente. Quando a criança se tornasse capaz de reconhecer um certo número de palavras, passava-se a escrever frases com elas e, no menor tempo possível, a criança estaria lendo.
Para Adam o sentido do texto tem mais importância que o som do texto e ler é mais importante que decifrar; a aprendizagem parte de palavras com significado afetivo para a criança. Segundo ele, a análise da palavra deveria ocorrer numa etapa bem posterior ao domínio do capital de palavras apreendidas globalmente.
Resumindo ao contrario do método sintético em que a aprendizagem se iniciava primeiramente pelas letras do alfabeto, no método analítico iniciava-se pela palavra, frase ou texto.

 Método Global ou Ideovisual – Suas bases foram lançadas em 1936 com o avanço no conhecimento da Psicologia, por Ovide Decroly. Suas características básicas são:

1- A primeira fase da aprendizagem da leitura é baseada no reconhecimento global de frases significativas para a criança; essa fase deve durar o maior tempo possível. Recomenda-se a utilização de etiquetas;
2- O objetivo do método é fazer com que as crianças compreendam o sentido do texto lido. A ênfase recai na compreensão da leitura e não mais na decodificação, que agora é vista como um domínio externo ao processo da leitura. Nesse sentido, Decroly abandona em definitivo a idéia de oralização deslocando a concepção de língua escrita: a escrita é uma linguagem autônoma, que remete diretamente ao sentido, sem a passagem obrigatória pelo oral;
3- Se até Decroly o texto era visto como um objeto para ser analisado antes de ser lido, após Decroly a ênfase recai no uso da escrita; desse modo, a escrita assume sua função de comunicação. Decroly dispensa a análise abstrata da língua, pelo menos até o momento que a criança demonstre algum interesse nessa análise.

Métodos de Alfabetização
Eloisa Meireles

Os métodos de alfabetização não são a melhor coisa do mundo. Mas não há nada melhor para alfabetizar um grupo de pessoas, do que usar-se um método de alfabetização.
Os métodos de alfabetização podem ser classificados quanto a dois aspectos:
a) estratégia usada pelo professor ou abordagem
b) ponto de partida da leitura
Quanto à estratégia usada pelo professor ou abordagem, os métodos podem ser globais ou não globais.
Globais: frases, palavras, sílabas e letras são apresentadas dentro de um contexto; são contextualizadas.
Não Globais: frases, palavras, sílabas e letras são apresentadas soltas; são descontextualizadas.
Quanto ao ponto de partida da leitura, os métodos podem ser sintéticos ou analíticos.
Sintéticos: também chamados fonéticos ou fônicos, têm como ponto de partida os sons das letras(fonemas) ou os sons das sílabas (unidades fonéticas).
Analíticos: têm como ponto de partida palavras, frases ou textos.
O ponto de partida da leitura determina a operação lógica predominante que o aluno vai fazer no início da alfabetização.
Se o aluno partir da palavra para chegar às letras, a operação predominante é a análise e, por isto, o método é analítico.
Se o aluno partir das letras ou das sílabas para chegar à palavra, a operação predominante é a síntese e, por isto, o método é sintético.
Os métodos fonéticos são sintéticos.
Os métodos não fonéticos são analíticos
Observe que mesmo nos métodos analíticos é fundamental que se chegue à letra e seu som.


Fonação: o aluno aprende a emitir os fonemas e a aglutiná-los.
b...a...bá
Usado na Inglaterra desde o século XVIII.
Exemplos: Método Iracema Meireles e Método Montessori
Soletração: o aluno aprende o nome das letras e suas combinações.
bê... a... bá
É o método mais antigo e difundido no mundo ocidental. Por ele, certamente, aprenderam: Camões, Cervantes, Shakespeare e todos os escritores ocidentais até o começo do século XX.
Silabação: o aluno aprende as famílias silábicas.
ba be bi bo bu
É muito pouco usado, atualmente. Na prática virou uma etapa da palavração e da soletração.
Palavração: o aluno aprende palavras e depois as separa em sílabas para com estas formar novas palavras.
Exemplo: Método Paulo Freire
Sentenciação: o aluno aprende uma sentença (frase) que depois é dividida em palavras que são divididas em sílabas. Com estas últimas aprendidas, o aluno lerá novas palavras.
Texto: o aluno é apresentado a um texto lido pelo professor que depois destaca uma frase, uma palavra, até chegar às sílabas ou às letras para formar novas palavras.
Exemplo: método de contos
É raro encontrar uma sala de aula onde se possa ver um método "puro". Via de regra o professor segue um método e lança mão de recursos de outro. Quando esta mistura é intencional e sistematizada, chama-se método misto ou eclético. Este método era o mais encontrado há 10 anos atrás
Hoje o que se vê nas escolas públicas das principais cidades brasileiras é a ausência de método, o não método preconizado pelo construtivismo.
É preciso que se compreenda que os métodos de alfabetização dão segurança aos professores, sobretudo aos mais inexperientes, e eficácia ao trabalho.

O Método Iracema Meireles é um método de fonação, global fonético porque parte da letra contextualizada. Neste método, as letras aparecem associadas a figuras do universo do aluno, as figuras-fonema. O aspecto lúdico deste método cria uma ligação afetiva forte entre alunos e letras, o que torna a aprendizagem muito rápida. Ao contrário da maioria dos métodos, este não exige esforço de memória porque as figuras-fonema minimizam a memorização. É apresentado em duas cartilhas: A Casinha Feliz e É Tempo de Aprender.
A proposta pedagógica do Método Iracema Meireles parte do princípio de que o domínio da leitura a da escrita amplia a capacidade de autonomia necessária para que o aluno avance no processo de construção do seu Conhecimento.
** O Método Paulo Freire é um método de palavração global não-fonético, no qual as palavras são selecionadas dentro do universo vocabular dos alunos. Paulo Freire inovou quando propôs alfabetizar adultos partindo de palavras que estivessem fortemente ligadas à sua realidade. A relação afetiva com as palavras impulsiona a aprendizagem. A conotação política e libertária do trabalho de Paulo Freire faz dele um dos educadores mais conhecidos no Brasil. Entretanto, o grande esforço de memorização que este método exige, faz com que os resultados sejam insatisfatórios. Muitos adultos desistem porque o processo é demorado. Não utiliza cartilha.

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