Currículo e Educação

Currículo - Giroux e Outros Autores

Teorias de diversos autores buscam explicar o papel da escola, do currículo, e da educação. Freire sempre enfocou as questões sociais e acreditava ser a escola um lugar para os embates sociais: “A escola continua a ser um espaço de conflito social” (Freire, 2000, p. 90).


Giroux, em seus trabalhos, aborda a organização e a atuação da escola e o papel dos profissionais que atuam nas diversas áreas educacionais, pois, questionando a “neutralidade”, preocupa-se com o poder que escola e currículo têm, podendo constituir-se em ferramentas de reprodução das desigualdades sociais, de ideologias e do poder das classes dominantes, dependendo da forma como são utilizados.

Nesse sentido, também com uma visão de que o currículo é portador de idéias e intenções, podemos destacar o conceito de Silva, 1996, p.23 "O currículo é um dos locais privilegiados onde se entrecruzam saber e poder, representação e domínio, discurso e regulação. É também no currículo que se condensam relações de poder que são cruciais para o processo de formação de subjetividades sociais." Em suma, currículo, poder e identidades sociais estão mutuamente implicados. O currículo corporifica relações sociais.

Louis Althusser em sua obra “A Ideologia e os Aparelhos Ideológicos do Estado” associa a educação ao repasse de ideologias. Ele analisa que a intenção do sistema capitalista é permanecer e que, para se manter, faz uso dos recursos possíveis de repassarem ideologias, como, por exemplo, a escola. Com relação a essa colocação de Louis Althusser, Silva (2003, p. 31) comenta "Essencialmente, argumenta Althusser, a permanência da sociedade capitalista depende da reprodução de seus componentes propriamente econômicos (força de trabalho, meios de produção e da reprodução de seus componentes ideológicos) [...] O primeiro mecanismo está a cargo dos aparelhos repressivos do estado (a polícia, o judiciário); o segundo é responsabilidade dos aparelhos ideológicos de estado (a religião, a mídia, a escola, a família)."

Giroux, preocupado com a educação, critica as forças políticas e econômicas que, segundo ele, ameaçam a independência e a criatividade na escola. O teórico acredita no potencial transformador da escola, salientando a natureza política da atividade pedagógica. Portanto, a construção do currículo consiste em uma atividade de questionamento, intervenção, problematização e com intenção crítica, mas, desde que se apresente como um recurso que “nos revele um espaço narrativo que evidencie o contexto e os aspectos específicos, ao mesmo tempo em que reconheça os modos pelos quais tais espaços estão impregnados por questões de poder" (Giroux & Shannon, 1997, p. 4).

Importando-se com “o social” como um todo, em sua obra La inocencia robada: Juventud, multinacion ales y política cultural, Henry Giroux tem como foco os questionamentos: como se relacionam os processos de democracia e o novo capitalismo na nossa sociedade; como afetam as novas lógicas do mercado global o bem estar das crianças; e como têm influência em nossas responsabilidades e intenções como profissionais da área de educação comprometidos com a luta por formar uma democracia social.

Nesta obra, Giroux mantém uma postura crítica em relação à forma como o poder e a política da cultura das empresas tendem a limitar as liberdades públicas e os direitos civis dos cidadãos e, particularmente, as liberdades e os direitos civis das crianças. Para o autor, o novo capitalismo e a cultura empresarial não apenas limitam o exercício da democracia, como também comprometem os processos de aprendizagem e ensino da democracia na esfera pública escolar.

Com um pensamento também focado nesta direção, encontramos a posição de García Canclini, 1995, que defende que estes fatos estão relacionados aos novos padrões impostos pelas políticas neoliberais, através das quais “o público” é deslocado pelo “o privado/governamental”; os “problemas sociais” se convertem em “problemas individuais” e o conceito de “ser cidadão” se transforma em o de “ser consumidor”.

Em seu livro La inocencia robada: Juventud, multinacion ales y política cultural, Henry Giroux procura nos transmitir a mensagem de que fiquemos alerta com relação à propagação de um capitalismo que tenciona destruir a democracia. Preocupa-se com o fato de que as crianças e as escolas possam servir como elementos sobre os quais possa ser incutida a cultura empresarial e nos quais possa estar definido o futuro da democracia.

Após essas considerações, é importante que nos questionemos em relação à escola que queremos e aos cidadãos que gostaríamos de ter atuando em nossa sociedade. Para isso, faz-se necessário, então, questionar o currículo que está em prática nas escolas e o que está impregnado nele. É lógico que não podemos “formar” ou “criar” pessoas de acordo com os nossos moldes ou com o que “pensamos” ser o correto. 
Contudo, é essencial que tenhamos consciência do quanto nossa atuação pode vir a contribuir ou a prejudicar as pessoas que estão a nossa volta e o conjunto social no qual estamos inseridos.

Façamos de nossa prática uma demonstração de comprometimento com o homem e com a sociedade.

REFERÊNCIAS
ALTHUSSER, Louis. (1983). Aparelhos ideológicos de Estado. 2. ed. Rio de Janeiro: Graal.
CANCLINI, García N. (1995). Consumidores y ciudadanos: Conflictos multiculturales de la globalización. México: Grijalbo.
EDREV. Resenhas Educativas. http://edrev.asu.edu/reviews/revs119

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